Nossa
cultura ainda insiste em clichês e mentalidades sexistas que ditam a
maternidade como algo inato a todas as mulheres. As consequências
nocivas dessa lógica são muitas: reduzir todas as mulheres ao papel
de mãe faz com que as garotas absorvam, desde cedo, comportamentos
limitados e submissos, aguardando o suposto inevitável dia em que se
tornarão mães. Mas o que é, afinal, um comportamento materno?
Existem
muitos tipos de mães na nossa sociedade. Há aquelas que adotam
métodos educacionais libertários, outras que preferem criar seus
filhos em modelos conservadores; há mães que não exercem uma
autoridade rígida sobre as crianças ou ainda que são controladoras
e até mesmo rudes com seus filhos. O comportamento dessas mulheres
varia de acordo com a personalidade e subjetividade de cada uma
delas; é por isso que existem tantas formas de ser mãe, variando
entre o afeto e a compreensão a até mesmo atitudes violentas e
criminosas.
No
entanto, a personalidade “maternal” que a sociedade atribui às
mulheres se limita aos atos de cuidado e servidão, frequentemente
associados a um padrão submisso de comportamento. Não por acaso,
esse conceito de maternidade está intimamente relacionado à ideia
naturalizada de que mulheres devem ser brandas com os homens, mesmo
em situações em que eles são grosseiros ou abusivos. Segundo esses
valores machistas, a mulher deve ser paciente, didática e
acolhedora. Mulheres que são assertivas, que se posicionam de
maneira contundente e que não fazem nenhuma questão de tratar o
machismo com panos quentes, acabam sendo hostilizadas, expostas como
descontroladas e “histéricas”. E muita gente nem mesmo percebe o
sistema misógino escondido por trás desses padrões.
A
maternidade não é um dom, tampouco um dom atribuído às mulheres
de maneira universal. É preciso entender que muitas mulheres não
querem ser mães e que, muitas vezes, suas personalidades e
aspirações de vida não estão voltadas para um suposto “instinto
materno”. Ser mãe é um processo árduo de aprendizagem. Não
existem mães perfeitas e nenhuma mulher nasce sabendo como ser mãe.
Além
disso, a própria ideia de postura maternal deve ser objeto de
reflexão, sobretudo quando desbanca para mulheres que não são mães
ou em contextos onde elas não estão lidando com seus filhos.
Nenhuma mulher tem a obrigação de agir como mãe dos seus
parceiros, colegas de trabalho ou de debate. Nenhuma mulher é
obrigada a tratar homens como filhos, agindo de maneira protetora,
infantilizada ou incondicionalmente paciente. Essa lógica machista
precisa ser destruída.
É
fato que ainda temos muito o que debater e compreender a respeito da
maternidade e do papel de cada mãe. Ainda não aprendemos a
respeitar as nossas próprias mães e menos ainda as mães dos
outros. Ainda são impostas cargas absurdas para que as mães de
nossa sociedade carreguem e ainda exigimos delas o impossível. Ainda
assim, devemos trabalhar para que as mulheres, sejam elas mães ou
não, sejam vistas como indivíduos únicos, singulares e completos,
sem a necessidade da maternidade e sem a exigência de um padrão
maternal em seus comportamentos.
Fonte: http://www.revistaforum.com.br
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