quarta-feira, 13 de maio de 2015

A HORA DO HIP-HOP FEMINISTA BRASILEIRO

O que a nova safra de rappers brasileiras têm a dizer sobre o movimento e por que isso faz uma diferença do caramba.

POR MARCELO ANDREGUETTI
Bárbara Sweet é uma mina que honra o rolê. Em cima do ringue das rimas ela finca a bandeira feminista e desce o regaço nos insultos machistas que recebe. Um vídeo seu de setembro, esculachando bróders MCs que a jogavam pra baixo por ser mulher, viralizou nas interwebs e alcançou quase 20 mil compartilhamentos.
Barbara Sweet (Barbara Sweet/Arquivo Pessoal )
Barbara Sweet (Barbara Sweet/Arquivo Pessoal )
O pico onde o vídeo foi gravado é a tradicional Batalha de Rimas da estação de metrô Santa Cruz, em São Paulo, um palco perfeito para colocar em evidência a pauta do feminismo no rap. Graças ao viral, a mineira de 28 anos é hoje tida como a “porta-voz” do movimento, mas vê a luta contra o preconceito de gênero como algo coletivo: “Não é exclusividade minha. Outras colegas sofrem ataques, no underground ou mainstream, mas estamos bem articuladas e trabalhando em conjunto para agir e reagir. A melhor reação é nossa união”, disse em entrevista para o Portal Fórum.
União que se comprova com o recente surgimento de nomes no rap que estão na linha de frente da causa feminista. Além da própria Bárbara, artistas como a brasiliense Flora Matos, a curitibana Karol Conká e as cariocas do Pearls Negras estão deixando o underground para falar sobre o papel da mulher rapper no mainstream daqui e lá de fora. Para elas, a melhor arma contra o preconceito é a criatividade: “Esse desafio é pura inspiração. (…) Eu sinto que alguns homens estranham, mas estão ali, presentes e respeitando. Mais do que isso, estão tentando entender que novidade é essa” revela Flora, em entrevista ao Portal Vírgula no ano passado.
Karol Conká, por sua vez, vê a música que faz como um “remédio”. A curitibana de 26 anos e de origem humilde canta no pleno comando de sua sexualidade. O discurso é livre e autoafirmativo: “Cada letra, cada música eu fiz pensando no que vivi e escrevendo pra mim, me colocando no lugar das pessoas, o que eu gostaria de ouvir de uma artista negra”, afirmou em entrevista a Pedro Alexandre Sanches, colunista de cultura da Carta Capital. Dessa forma, Karol consegue, no domínio do próprio desejo, afirmar um estilo despojado, cômico e pervertido.
(Karol Conka - Foto: Mariana Zarpellon)
Karol Conka – Foto: Mariana Zarpellon
No mundo do hip-hop nacional, o simples fato de ser uma personalidade libertária carrega por si um estigma de preconceito. Ao reclamar seu direito de ser negra e dona de si na cama, na pista de dança e no que escolhe vestir, Karol abre espaço para o avanço do feminismo no rap para além do preconceito de classe, atingindo em cheio o sexismo. Da mesma maneira que algumas MCs do funk são taxadas de machistas quando buscam o empoderamento de sua sexualidade, Karol também sofre com o rótulo de ser “mulher que faz rap de saia e de rímel”: “O rap era machista a ponto de as mulheres terem de se vestir como um homem para não ser taxada de vagabunda. (…) Numa época, me vi tentando forçar um lado mais Mano Brown. Mas não consegui”, comentou na mesma entrevista.
(Pearls Negras - Foto: I Hate Flash)
(Pearls Negras – Foto: I Hate Flash)
O que sobra de sexualidade e estilo em Karol, as meninas do Pearls Negras, da favela do Vidigal no Rio de Janeiro, levam adiante com mais agressividade. O trio formado por Alice, 17 anos, e Mariana e Jennifer, 16, fazem uma releitura do “power to the people” do Public Enemy, misturado ao suingue da favela e ao girl power feminista. No front da guerra de rimas, o flow eletrizante das três celebra a autoestima da garota adolescente, independente e negra da quebrada. “Porque sou guerreira / Passando por vários obstáculos / Com as aliadas do lado/ Não temos nada a temer”, cantam as três emGuerreira. O recado é direto: um rap pra “fazer os trouxa correr”, que reafirma a vontade de lutar pela identidade do morro e da mulher.
O rap nacional passa por uma renovação que, buscando inspiração em artistas femininas como M.I.A., Lauryn Hill, Nicki Minaj, Beyoncé e Erykah Badu, traz as garotas para a linha de frente, seja no campo da batalha de rimas ou na luta contra o preconceito. Mais que algo a ser celebrado, o feminismo como pauta no trabalho de artistas tão talentosas mostra-se necessário no debate do papel da mulher, seja ela da quebrada ou não.
Fonte:http://elasticam.ag/



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