Casado com Luíza Diener, autora do blog Potencial Gestante, Hilan Diener, 33, é pai dos pequenos Benjamin, de quatro anos, e Constança, de um ano e dez meses. Aqui, ele reflete sobre como o machismo ainda está presente no nosso dia a dia quando o assunto é o papel do pai nos cuidados com os filhos. Confira!
Pai
de primeira viagem se mete em cada furada... Ainda me lembro da
primeira vez que levamos o Benjamin à pediatra, com poucos dias de
vida. Luíza e eu não tínhamos a menor noção de quem ela era, mas
marcamos um horário por indicação do hospital em que o Joca
nasceu. Relembrar aquela consulta me dá até raiva – a quantidade
de bobagens que a médica falou e o número de coisas que eu até
acreditei não está no gibi. Mas teve uma coisa que realmente me
marcou: a médica só se dirigia à Luíza. Era um tal de "mãezinha,
faz isso..." e "aí ~ m.ã.e.z.i.n.ha ~ faz aquilo"enquanto
eu fiquei ali apenas como mero expectador. Um ser de segunda
categoria. Um figurante. Até tentei chegar mais pra frente na
cadeira para ficar no campo de visão dela, mas parecia que eu tinha
poderes mutantes de invisibilidade.
Saí
de lá chateado com a situação, mas isso me fez pensar. A pediatra
estava errada, sim, mas de certo modo eu entendo por que ela me
tratou daquele jeito. Afinal, nós, homens, damos todos os motivos
para isso. Começou ali, quando eu nasci com um cromossomo Y. Desde
então minha família, meus parentes, depois a escola, a TV, os
amigos, ou seja, toda a sociedade, me criou como "menino"
e, segundo nossa cultura, meninos não foram criados para exercer
cuidados - mas, sim, para trabalhar, lutar e prover.
Os
meninos são "treinados" para serem bons em tudo o que é
divertido, atlético, ágil, matemático, mecânico e viril. Não
sobra tempo para as ditas "coisas de meninas" (que deveriam
ser de meninos também) e quando se tornam pais nada muda:
continuamos vivendo - ao menos a maioria - a paternidade da mesma
forma divertida, atlética, ágil, matemática, mecânica e viril que
levamos a vida inteira.
Isso
explica muita coisa, mas não justifica. Recentemente o ator Ashton
Kutcher se tornou pai e começou a perceber a mesma coisa que notei
alguns anos atrás com esse episódio da pediatra: a sociedade é
machista e enxerga somente as mulheres como cuidadoras. Um exemplo
disso é o fato de que em estabelecimentos, em geral, não existem
fraldários masculinos. A maior parte dos trocadores (quando existem)
está sempre dentro de um banheiro feminino. Então se você, pai,
quiser trocar a fralda suja da sua criança ou vai ter que se
fantasiar de mulher ou vai se aventurar em lugares bizarros, pequenos
e sem nenhuma estrutura.Além disso, ainda terá que enfrentar
olhares tortos de reprovação/nojo ou de uma estranha admiração
pelo simples fato de ser um homem que cuida do filho que você pôs
no mundo.
E é
sempre bom lembrar que "ajudar" e "cuidar" são
coisas bem diferentes. Quando alguém diz: "Nossa! Seu marido
ajuda muito com a crianças" a impressão que dá é que
o marido está ali apenas fazendo um favor temporário para a
família. Até a nossa linguagem enxerga o homem como um ajudante
descompromissado que, de vez em quando, por sorte da esposa, aparece
pra dar uma ajudinha... Isso não é cuidar! Cuidar é uma
responsabilidade conjunta. É assumir os filhos e tudo o que vem
junto nesse pacotão e criá-los.
Infelizmente,
o mundo é machista. E sua mulher vai sofrer por causa disso e vai
sobrar pra você também (que quer ser diferente). No final, todo
mundo perde. O que fazer então? A minha esperança está na nova
geração. Existem muitos pais por aí criando filhos aos trancos e
barrancos como eu, mas de alguma maneira de uma forma mais inclusiva.
Rompendo com um modus operandi de séculos a fio, começando a
entender e também a exercitar o real significado de cuidar e criar
um filho.
Eu
ainda estou muito longe de entender esse senso de missão e
responsabilidade que minha esposa tem. Confesso que não é fácil e
nem sempre satisfatório. Geralmente tenho a impressão de que estou
correndo atrás de um prejuízo. Não é algo que eu naturalmente
queira fazer. É preciso um esforço - quase que um empurrão interno
- para ser um pai de verdade. É preciso muita coragem e é preciso
ser muito macho. Porque esse papel pode ser extremamente frustante,
enlouquecedor e cansativo, mas também é incrivelmente
transformador, emocionante e libertador.
Quem
sabe nossos filhos cresçam nesse ambiente melhorado e, quando forem
pediatras ou donos de empresas, percebam que homens e mulheres - com
todas as suas diferenças e semelhanças - podem, sim, amar e cuidar
das suas crias. E, quem sabe (finalmente e de uma vez por todas)
instalem logo em todos os lugares possíveis esse bendito fraldário
nos banheiros masculinos.
Fonte:http://www.mdemulher.abril.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário