George Eliot |
Para
evitar o preconceito vitoriano contra romancistas do sexo feminino,
Mary Ann Evans (1819 – 1880) decidiu escrever sob o pseudônimo
masculino George Eliot; e, assim, tornou-se um dos mais célebres
nomes da história da literatura. Eliot escreveu o primeiro de seus
sucessos em 1857, aos 37 anos, “The Sad Fortunes of the Reverend
Amos Barton”, publicado na Blackwood’s Magazine. Ela fez questão
de fazer com que a obra caísse nas mãos certas, enviando cópias
para alguns dos astros da literatura da época, incluindo Dickens,
Thackeray, Faraday, Ruskin, Tennyson e Carlyle. O livro foi um
sucesso – todas as 1.500 cópias foram vendidas imediatamente e
jornalistas teceram elogios ao “autor”, “exímio conhecedor do
coração humano”. Tal sucesso criou um grande mistério acerca da
identidade do escritor. Rumores atribuíram o trabalho a Joseph
Liggins, que negou as alegações em vão.
Mas a
mais vibrante homenagem ao talento de Eliot foi oferecida pelo
próprio Dickens, que enviou-lhe uma carta a partir de seu editor
antes que sua identidade fosse revelada. Apesar de dirigir-se ao
“Caro senhor”, Dickens – que Eliot havia conhecido em 1852 e
considerado “bastante antipático” – dá a entender que, de
acordo com sua intuição e apesar dos rumores populares, George
Eliot é uma mulher. A carta, que pode ser encontrada no livro George
Eliot’s Life, as Related in her Letters and Journals desfez
habilmente a primeira impressão de Eliot em relação a Dickens,
sendo o apogeu da consagração, escrita com admiração
profissional, generosidade de espírito e muita ternura.
18 de
Janeiro, 1858, Londres
“Meu
caro senhor,
Os dois
primeiros capítulos do livro que o senhor fez a bondade de enviar-me
a partir da editora de Blackwood afetaram-me consideravelmente, e
espero que permita que eu expresse a admiração que senti diante de
seu mérito extraordinário. Eu nunca havia encontrado, em um livro,
autenticidade e sinceridade, tanto em matéria de humor quanto de
drama, como no seu. Sua escrita impressinou-me tanto que eu mal
poderia descrever o que senti, se tivesse a impertinência de tentar
fazê-lo.
Ao
endereçar essas poucas palavras de agradecimento ao criador de “The
sad fortunes of Mr. Amos Barton” e “The sad love story of Mr.
Gilfil”, eu estou disposto a chamá-lo pelo nome que o agradar. Não
poderia sugerir nenhum mais apropriado; mas sentiria-me fortemente
tentado, se pudesse, a dirigir-me a ele como mulher. Eu observei o
que a mim, nessas ficções comoventes, remete a certo toque feminino
– de modo que o nome com o qual o autor assina é insuficiente para
satisfazer-me, mesmo agora. Se tais obras não foram criadas por uma
mulher, creio que nenhum homem em todo o mundo jamais foi tão
bem-sucedido na arte de expressar-se tão bem como uma mulher.
Não
pense que tenho qualquer desejo vulgar de desvendar seus segredos.
Fiz menção a tal assunto por ele ser de grande interesse a mim –
não por mera curiosidade. Se considerar conveniente, e se simpatizar
com a ideia, peço que revele a mim o rosto do homem ou da mulher
capaz de escrever tão charmosamente. Será uma ocasião memorável
para mim. Caso contrário, continuarei a pensar nesse personagem
inacessível com muito carinho e respeito, e espero ser contatado
novamente. Sei que isso me fará melhor e mais inteligente.
Seu
servo fiel e admirador,
Charles
Dickens”
Fonte:www.diariodocentrodomundo.com.br
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