terça-feira, 9 de junho de 2015

Demitidos por serem gays: o nada fácil mercado para LGBTs

Demitidos por serem gays: o nada fácil mercado para LGBTs


Uma em cada 5 empresas não contrataria um homossexual. Nas que contratam, 40% sofrem discriminação. Para transexuais, cenário é ainda pior.

A paulistana Aline Paz arrumou seu primeiro emprego em 2007, aos 16 anos, na área de “Posso Ajudar?” de um conhecido shopping de São Paulo. No ano anterior, seu pai havia falecido, e ela precisava ajudar a cobrir as despesas de casa. Mas ficou no trabalho apenas 7 meses. Quando a responsável pela administração descobriu que a jovem era lésbica, imediatamente a demitiu.

“Eu amava trabalhar lá. Era a mais antiga da equipe, treinava as meninas novas que chegavam. Até que uma garota entrou e acabei falando de uma ex-namorada. Nada de mais, devo ter desabafado. Ela contou para minha chefe, que me chamou no final do expediente e disse que precisava me dispensar. Chegou a dizer que não sabia se me colocava no vestiário dos meninos ou das meninas. Eu era muito nova, só consegui ficar sem ação e chorar muito”, disse em entrevista ao Terra .

No início, sua mãe não conseguia lidar bem com sua orientação sexual, por isso Aline só decidiu contar a ela o que havia acontecido anos depois, quando já estavam se entendendo melhor. Juntas, procuraram uma advogada e foram orientadas a desistir do caso. Sem provas, provavelmente seriam acusadas de calúnia.

“O engraçado é que eu já tomava ‘cuidado’ desde que entrei. Me trocava dentro da cabine do banheiro e só saía quando terminava de me arrumar. Para não dar motivo, sabe? Claro que eles estavam errados, eu também estava errada por me culpar, mas na hora você não pensa nessas coisas. Só carrega culpa. E segue em frente, calada”, afirmou.

Pesquisa feita com recrutadores de 10 mil empresas mostrou que quase 20% delas não contrataria um homossexual para determinados cargos
Foto: Ricardo Matsukawa / TerraHoje, aos 24 anos, a jovem é formada em jornalismo e trabalha há três anos em uma editora onde já foi promovida três vezes. Sua relação com a mãe, sua atual “melhor amiga”, mudou completamente. E o tempo a fez superar o incidente e voltar a ter confiança nela mesma e nos colegas.

“Em todos os empregos pelos quais passei, nunca me abria com ninguém. Se estava namorando, dizia que era um garoto. Só me abri aqui na redação, porque a cabeça é outra. E mesmo assim, quando entrei, não sentia confiança. Tem três gays na equipe, mas eles são homens, eu tinha acabado de entrar para uma revista feminina, tinha medo de acharem que eu não serviria para isso. Tudo errado, não é?”, completou.

Pesquisas não são animadoras

Pesquisas recentes mostram que integrantes do grupo LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros) têm mais dificuldades para conseguir empregos que cisgêneros (pessoa cuja identidade de gênero está em consonância com o gênero que lhe foi atribuído ao nascer) e heterossexuais. Além disso, quando conseguem entrar em uma empresa, têm grandes chances de passar por alguma situação de discriminação.

Um desses levantamentos foi promovido pela Elancers, companhia que atua na área de sistemas de recrutamento e seleção. Divulgado neste mês de maio, ele foi feito com recrutadores de 10 mil empresas brasileiras (sendo que 1,5 mil responderam e 8,5 mil não quiseram participar) e mostrou que 18% delas (uma em cada cinco) não contratariam um homossexual para determinados cargos.

“Fizemos três perguntas de múltipla-escolha: se não contrataria um homossexual de maneira alguma, se não contrataria para alguma função ou se contrataria; 7% optaram pela primeira e 11%, pela segunda. Como os questionamentos foram feitos aos recrutadores, e não aos representantes das empresas, é um retrato honesto. Todo mundo diz que não tem preconceito, mas a pesquisa mostra que não é bem assim”, explicou o presidente Cezar Tegon.

A consultoria de engajamento Santo Caos realizou um estudo complementar. Ela entrevistou 230 profissionais LGBTs de 14 Estados brasileiros, com idades entre 18 e 50 anos e provenientes de segmentos diversos, incluindo administração, comunicação, cinema, design, direito, educação, engenharia, finanças, marketing e TI. Os resultados, divulgados em abril, também assustam: 40% relataram já ter sofrido discriminação direta de algum chefe, colega ou cliente. E todos, sem exceção, disseram ter passado, pelo menos uma vez, por discriminação velada.


Fonte: http://noticias.terra.com.br

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