Ao lado de duas amigas, a carioca Clara Browne criou a publicação digital que incentiva adolescentes a se aceitarem exatamente como são
Quando questionamos o que interessa às adolescentes, é fácil pensar em temas como moda, beleza, virgindade e primeiro beijo. Mas um grupo de jovens mulheres se juntou para criar um site colaborativo, o Capitolina, e incluir assuntos mais complexos nesse universo. A página não deixa de lado os clássicos textos sobre cuidados com os cabelos ou dicas de maquiagem, mas também fala de igualdade de gêneros, aceitação do próprio corpo, feminismo e sexualidade. "Quando tratamos de relacionamentos, tentamos sair do formato homem e mulher e incluir a comunidade LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transgêneros e tran- sexuais)", explica a carioca Clara Browne, 20 anos, uma das idealizadoras da publicação ao lado das conterrâneas Lorena Piñero, 25 anos, e Sofia Soter, 23.
Há pouco mais de um ano no ar, o Capitolina recebe cerca de 3 mil visitantes diários, chegando a picos de 25 mil leitores, dependendo do conteúdo publicado. As mais de 70 colaboradoras voluntárias de todo o país, com idades entre 16 e 28 anos, são ilustradoras, fotógrafas e estudantes do ensino médio e superior que se reúnem mensalmente pelo Facebook para discutir os temas a serem abordados. Sexo e relacionamento ainda são hits entre a audiência, mas a proposta do grupo é trazer um outro olhar sobre esses assuntos.
Ilustração Julia Oliveira
A pernambucana Maria Clara Araújo, 18 anos, é uma das colaboradoras mais populares. Transexual, ela escreve especialmente sobre carreira e educação. A jovem foi uma das primeiras 100 pessoas do país autorizadas a usar seu nome social - aquele que escolheu, não o que está na certidão de nascimento (que é masculino) - nas provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), em 2014. Hoje, Maria Clara cursa pedagogia na Universidade Federal de Pernambuco e comemora o fato de ser mais uma transexual matriculada em universidade pública - algo ainda raro no Brasil. No site, ela comenta os preconceitos e as dificuldades que já sofreu e incentiva as leitoras a estudarem. "Educação é a chave para começarmos a trilhar um novo futuro", escreve. Ela conta que, certa vez, quando visitava o Centro Municipal de Referência em Cidadania LGBT de Recife, duas transexuais, de 16 e 17 anos, disseram a ela que haviam acompanhado sua trajetória durante o vestibular e que, como ela, também estavam tentando ingressar na faculdade. "É isso que me motiva a continuar escrevendo. Na adolescência, é essencial ter alguém para se inspirar." Tudo a ver com a ideia do Capitolina, que estimula suas leitoras e colaboradoras a gostarem de si como são. "É muito gratificante quando recebemos e-mails de garotas dizendo que, depois de ler o site, sentem-se mais confortáveis com seus corpos, cabelos e escolhas", diz Lorena. O nome da publicação, aliás, é uma homenagem a uma das mulheres mais provocantes da literatura nacional, Maria Capitolina, a Capitu de Machado de Assis.
Fonte: http://mdemulher.abril.com.br/
Nenhum comentário:
Postar um comentário