Schuyler Bailar, de 19 anos, chegou a sofrer de depressão e transtornos alimentares antes de se assumir como homem - Reprodução |
Ela era o trunfo da equipe de natação feminina da Universidade de Harvard: uma ágil jovem de 19 anos, especialista em nado de peito, com um agudo senso de ética profissional e um intelecto afiado. O detalhe é que, do início do ano para cá, Schuyler Bailar não é mais mulher. Nas próximas competições de natação da universidade, que ocorrerão ainda este semestre, Bailar, agora declaradamente transexual, será integrante da equipe masculina. O rapaz é o primeiro nadador universitário transexual dos EUA.
Por muitos anos, Bailar sofreu de depressão e transtornos alimentares. Ele também viveu episódios de automutilação e pensamentos suicidas. Ainda assim, ele conseguiu, como menina, transformar-se em um atleta de alto rendimento, batendo até mesmo um recorde nacional.
— Eu era uma criança muito perdida, que não entendia por que tinha passado toda a minha infância me entendendo como menino, mas não o era de fato. Eu me foquei intensamente nos estudos e na natação para me distrair de qualquer coisa que pudesse vir à minha mente. Eu estava preso entre dois mundos — descreveu Bailar ao “Washington Post”.
Embora carregue cicatrizes no peito devido a uma cirurgia para remover os seios e glândulas mamárias, Bailar afirma que nunca esteve tão feliz como agora. O rapaz, que cresceu no estado da Virginia e frequentou a escola privada Georgetown Day, disse ao jornal americano que, quando contou à sua avó coreana que era transgênero, recebeu uma resposta surpreendente: “Bem, eu sabia disso. Agora eu tenho dois netos homens”, disse a idosa, referindo-se ao irmão de Bailar.
A propósito, desde que revelou sua nova identidade de gênero, o nadador tem recebido muito mais apoio do que imaginava. Seus pais, por exemplo, Terry e Hong Gregor Bailar, mostraram-se compreensivos. A treinadora da equipe de natação feminina de Harvard, Stephanie Morawski, também. Ela conheceu e recrutou Bailar ainda como mulher, mas, no início do ano, sugeriu que ele passasse a treinar com os homens, mesmo que isso signifique um desfalque para a equipe feminina. Os dois times chegaram a ganhar títulos da Ivy League em 2014.
— O que todos nós, entre capitães do time e membros da equipe, notamos é que [Bailar] Schuyler se tornou uma pessoa muito mais feliz depois que começou o processo de obtenção de uma aparência masculina. Ele é uma grande pessoa, queria muito nadar e já foi aceito em Harvard... Por que não o ajudaríamos? — questionou a treinadora.
Era consenso em Harvard que Bailar tinha o potencial de se tornar a melhor nadadora da equipe feminina, enquanto que, no time masculino, ele pode não se destacar tanto. Para o estudante, porém, a decisão a tomar estava clara.
— Eu sabia que entrar para a equipe masculina significava abrir mão dos objetivos que eu tinha definido para mim mesmo como nadador. Mas eu entendi que não poderia ter tudo. Esta não era uma opção — acredita ele. — Eu não posso mais viver de forma não autêntica. Então eu desisti do meu objetivo de ser uma incrível nadadora mulher para ser um nadador homem decente, na melhor das hipóteses? Sim. Existe orgulho e glória nesse caminho também.
Fonte: http://oglobo.globo.com/
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