segunda-feira, 30 de março de 2015

As novas famílias

Marcos amava Fabio que sonhava em ter um filho. Sem planejar, o casal acabou adotando dois. Carol queria ser mãe, e Kika também. Lilian não tinha namorado ou marido, mas resolveu engravidar. A mãe foi a companhia em todas as consultas médicas. Com Adriano, não conhecer pessoalmente os sogros e ter tido uma educação bem diferente da mulher, a canadense Eve, não foram motivos para impedir o casamento deles. Fabiana tinha dois filhos; Gian, outros dois. Foram morar juntos com os quatro, a mãe dela, e ainda tiveram mais dois meninos. Estas histórias, que você conhece aqui embaixo, talvez até sejam difíceis de serem entendidas logo de primeira, mas representam algumas das configurações familiares cada vez mais comuns no Brasil, que já ultrapassam, segundo o último Censo do IBGE, o tradicional núcleo mãe, pai e filho.
— São arranjos que, de uma forma ou de outra, já existiam, mas não eram expostos ou as pessoas preferiam não comentar — analisa a psicanalista Mônica Donetto Guedes, autora do livro “Em nome do pai, da mãe e do filho’’, que destaca a importância do debate dentro e fora do contexto familiar. — Acho que só assim é possível amenizar os problemas, que serão inevitáveis em formações tão diversas e complexas.
Se antes eram assunto tabu, as novas famílias servem de inspiração para novelas como “Babilônia”. Em contrapartida aos fatos reais e da ficção, um polêmico projeto de lei, denominado Estatuto da Família e “ressuscitado” na Câmara dos Deputados, determina que somente a união entre um homem e uma mulher pode constituir uma família, proibindo a adoção por casais homoafetivos. O resultado de uma enquete do portal da Câmara, no ar desde o mês passado, mostra que 53% dos que responderam concordam com a definição de família proposta pelo projeto.
— Os desafios tendem a ser minimizados ao longo do tempo, mas o preconceito existe e é preciso um cuidado especial com as crianças que têm famílias fora do convencional — diz Junia Vilhena, professora de Psicologia Clínica da PUC-Rio.
Enquanto isso, internautas se mobilizam contra o estatuto usando hashtags como #emdefesadetodasasfamílias e #nossafamiliaexiste.
— O casamento não deve ser encarado como uma questão de gênero. O elo do afeto é que caracteriza uma família — opina Carlos Tufvesson, coordenador especial da Diversidade Sexual da Prefeitura do Rio, casado há 20 anos com o arquiteto André Piva.
— Não dá para fechar os olhos para a realidade. Estas famílias existem, estão solidificadas e merecem respeito — afirma a advogada Patrícia Gorisch, presidente da Comissão Nacional de Direito Homoafetivo do Instituto Brasileiro de Direito de Família.

                                                        Família Motta Machado


A chegada de Tereza foi exatamente como o planejado: em casa, no bairro de Laranjeiras, numa tarde de agosto. Sob a supervisão da enfermeira obstétrica Heloísa Lessa e ao som de Frédéric Chopin, Carol sentiu as primeiras contrações durante a manhã. Ao longo de três horas, andou de um lado para o outro, se acalmou sentada na cadeira de balanço e achou conforto em cima de uma bola de pilates. Ao lado dela durante todo o trabalho de parto, sem anestesia, estava Kika, também mãe de Tereza.
— Era tanta expectativa e emoção que não dá nem pra descrever o que sentimos — conta a atriz e artista visual Kika Motta, de 33 anos, mãe de primeira viagem, como a mulher, a atriz e bailarina Carol Machado.
Carol é facilmente reconhecida. Fez sucesso em novelas como “Top Model” e “Vamp”, exibidas pela TV Globo entre o fim dos anos 80 e início dos 90, quando ainda era uma adolescente. Na novela que tinha Malu Mader como protagonista, ela era Jane Fonda, uma das filhas do surfista Gaspar, divertido personagem do ator Nuno Leal Maia.
Carol e Kika se conheceram tempos depois, quando eram vizinhas, mas só começaram a namorar após um reencontro, entre uma e outra postura nova aprendida numa aula de ioga. Há oito anos, dividem o mesmo teto.
— Sempre pensamos em ser mães e ficar grávidas. Por uma questão de idade, a escolhida para engravidar primeiro fui eu — explica Carol, de 39 anos, que se submeteu a três inseminações com esperma de doador anônimo.
O tratamento teve início três anos atrás numa clínica em São Paulo. Na primeira tentativa, Carol engravidou, mas perdeu o bebê aos quatro meses de gestação. A segunda não deu certo e, na terceira, veio Tereza, uma linda e sorridente menina de olhos azuis, que nasceu com três quilos e 49 centímetros.
— Como não conhecíamos outro casal que tivesse passado pelo mesmo processo, o caminho foi bem mais difícil— lembra Kika.
As duas revelam que têm forte ligação com seus respectivos pais e que pensavam muito em como seria criar uma criança sem a figura paterna. Estudaram muito, consultaram especialistas e fizeram novas amigas e amigos com histórias semelhantes.
Antes do nascimento da filha, prepararam um verdadeiro dossiê, organizado com a ajuda do pai de Kika, que é advogado. Na mesma pasta, reuniram a união estável das duas e relatórios dos profissionais que acompanharam o tratamento e o parto, além de menções aos casos de famílias formadas por casais gays que, em outros estados do Brasil, conseguiram, sem qualquer dificuldade, a certidão de nascimento dos filhos no nome deles.
— Fomos o primeiro casal homoafetivo do Rio a conseguir o registro de nascimento direto no cartório, sem precisar recorrer à Justiça. Foi uma conquista e tanto — comemora Carol, que deu à Tereza os sobrenomes menos conhecidos das mães: Rezende Eichler.
Aos 7 meses, Tereza Rezende Eichler começa a engatinhar e descobrir novos cantos da casa onde a família mora com os gatos Café, Cuca e Gaia. Tereza dorme num futton no chão do quarto, que foi decorado pelas mães com diferentes peças de artesanato, como os planetas comprados em Londres que estão pendurados no teto e personagens do Circo Nacional da China, presente de um amigo, que enfeitam a parede. Em cima de uma cômoda ficam várias fotos das três.
Enquanto Carol amamenta e curte a licença-maternidade bem pertinho da filha, Kika, que adora cozinhar, faz o último ano do curso de Escultura na UFRJ. As duas têm uma companhia de teatro e dança, a Finis Cinis, e planejam trabalhos juntas.
Com Tereza, elas vibram com cada novidade, como a chegada do primeiro dentinho e a estreia na aula de natação, na semana passada. Mas também não escondem que ainda ficam desconfortáveis ao falar da vida pessoal.
— A gente não tem obrigação de ficar o tempo todo dando satisfação pra todo mundo. Dependendo da abordagem, pode incomodar, sim — conta Carol, lembrando do dia em que pensaram que Kika era babá de Tereza ou quando ela mesma foi questionada sobre “quem era o que da menina’’.
— As pessoas precisam entender que a família tem um significado muito mais amplo e que envolve um sentimento lindo: o amor — resume Kika, que já se prepara para engravidar no ano que vem. — Agora vai ser a minha vez.



Fonte:http://oglobo.globo.com/




Estado vai ampliar formação de policiais para proteger LGBT's


Policiais assistem à palestra sobre como
 atender à população LGBT
 - Divulgação


Um ataque a um casal gay que trocava beijos na Praça São Salvador, em Laranjeiras, na madrugada do dia 1º de março, está pressionando o estado a tomar atitudes incisivas para conter agressões contra a população LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais). O programa Rio Sem Homofobia, em parceria com a Secretaria de Estado de Segurança (Seseg), pretende ampliar, a partir de abril, a formação dos policiais civis e militares para a condução de casos de homofobia. Cerca de 12% da corporação já fez o curso, mas a intenção é aumentar o percentual e implementar videoaulas.
- Os vídeos vão ensinar, por exemplo, como detectar agressões do tipo, como abordar transgêneros de maneira adequada, e como conduzir casos de homofobia. O material poderá ser visto a todo momento nos batalhões, para que o discurso seja reforçado - afirma o subsecretário de Educação,Valorização e Prevenção da Seseg, Pehkx Jones Gomes da Silveira.
A partir de agora, será exigido que policiais façam cursos de atendimento a LGBTs, mulheres, menores e idosos para que sejam promovidos. Coordenador do Rio Sem Homofobia, Cláudio Nascimento acredita que, desde 2007, quando o programa foi criado, a conduta policial vem melhorando.
- Em 2007, recebemos de 100 a 150 ocorrências envolvendo abuso de autoridade. Hoje, as denúncias estão na casa das dezenas - aponta Nascimento. - A homofobia existe em todos os segmentos da sociedade, por isso, temos que exigir uma atuação técnica e respeitosa.
Centenas de manifestantes devem se reunir, hoje, a partir das 18h, na praça onde os dois rapazes foram agredidos com garrafas e copos de vidro por frequentadores de um bar, para um “beijaço”. Os ativistas colarão na área adesivos “Aqui tem LGBTfobia” e ainda lançarão na web o site “Tem local?”, que vai reunir denúncias de agressões a homossexuais em todo o Brasil. O internauta poderá navegar pelas regiões do país e identificar as áreas mais perigosas, dar seu depoimento e oferecer dicas de estabelecimentos gay friendly.
- Muitas denúncias só vão para as redes sociais e, depois de alguma repercussão, se perdem. Essa será uma maneira de reunir as informações e gerar estatísticas - aponta Thiago Bassi, um dos organizadores do protesto.


Leticia e Marrie foram agredidas com gelo em bloco de carnaval - Divulgação/ Fernanda Vallois

OFENSAS EM TODO LUGAR
Em 24 horas de apuração, O GLOBO recebeu uma dúzia de relatos de agressões a gays e transexuais, no Rio, apenas nos últimos meses. Em alguns casos, como o do estudante de Direito Maycon Reis, de 22 anos, as ofensas são diárias: no metrô; dentro da Universidade Federal Fluminense, onde estuda; e nas boates. Na última quinta-feira, o rapaz recebeu um soco no rosto de um vendedor ambulante que achou que ele estava “se insinuando”, ao abordá-lo para comprar uma cerveja, na Cantareira, área boêmia de Niterói.
- Às vezes deixo de sair na rua porque sei que vou ouvir desaforos. Meu direito mais básico, o de ir e vir, está sendo roubado - enfatiza o estudante.
O sentimento de ter a liberdade limitada, aliás, é recorrente entre as vítimas. A estudante de Letras Leticia Appes, de 20 anos, e a namorada, Marrie Machado, de 28, foram atacadas em um bloco de carnaval, mês passado, com gelo e cerveja, fora os gritos de “sapatão nojenta”. Ao se distanciar do grupo, as moças foram atacadas novamente, por outros frequentadores.
- Não tive mais vontade de curtir a festa. Me senti humilhada, com raiva - comenta Leticia. - Ficou difícil sentir a energia linda do carnaval depois de sofrer lesbofobia duas vezes na mesma noite.

Fonte:http://www.oglobo.globo.com

sexta-feira, 27 de março de 2015

Rafael França: As aparências enganam? – a arte do fazer-se travesti

“Viagem Solitária” conta a trajetória de João, primeiro transhomem operado no Brasil



“Viagem Solitária”, de João W. Nery, é um livro autobiográfico que conta a história de João, que no final da década de 70 ousou e fez uma cirurgia de mudança de sexo. Nascia ali a história do primeiro transhomem operado no Brasil.
João nasceu mulher, mas estava aprisionado neste corpo estranho, uma sensação que ele reconheceu desde muito cedo.
Foi durante a Ditadura Militar, em 1977, que se submeteu à primeira cirurgia de mudança de sexo. Naquela época, as clínicas e os hospitais ainda não estavam liberados para fazer esse tipo de cirurgia, e os médicos que se propunham a realizá-las eram considerados mutiladores, a ponto do médico que operou o João chegar a ser indiciado por lesão corporal por outra cirurgia de mudança de sexo.
Em “Viagem Solitária” João conta desde sua infância reprimida, a adolescência solitária, as dificuldades amorosas, a perda de seu diploma de psicologia – que deixou de ter validade com a mudança de sexo – e as dificuldades jurídicas quanto ao seu novo nome, os quatro casamentos e seu maior orgulho, a paternidade.
Este é um livro imprescindível para todos os que queiram ver melhor o espanto que é o ser humano: a dimensão e a importância do componente sexual como fonte da identidade individual e social são aqui penetradas com a vitalidade de uma vida vivida: sofrimentos e alegrias, e misérias e esperanças — não apenas do personagem autobiográfico — compõem esta realidade, e o que daí emerge é um real mais forte do que o captado pela ciência e um romance mais pungente que as ficções romanescas.”Antônio Houaiss
A minha primeira impressão é que João não nasceu mulher e quis virar homem. Nada disso. João nasceu homem, mas preso num corpo de mulher.”Millos Kaiser
Este é um livro sobre integridade, um valor muito caro à sociedade de João. Devolve ao leitor o paradoxo da relação entre integridade e mutilação: chegar à mutilação em nome da integridade.”Hélio Silva, antropólogo.

Ficha Técnica
Título: Viagem Solitária
Autor: João W. Nery
Editora: LeYa Brasil

Fonte:http://www.leticialanz.org

quinta-feira, 26 de março de 2015

Leila Diniz, a mulher revolucionária!

Hoje, 25 de Março, há 70 anos, nascia a atriz Leila Diniz. Nesta quarta-feira, ela completaria 70 anos se não fosse o acidente aéreo na Índia, em 1972, que tirou sua vida.
Com um jeito despojado e sem papas na língua, Leila fazia o que lhe viesse à cabeça e, por isso, abriu caminho para as mulheres e, principalmente para o fortalecimento do universo feminino em uma sociedade extremamente machista e comandada por um regime militar.
Por estes e outros motivos, podemos dizer que ela foi revolucionária para a época e a imagem abaixo prova isso:



O clique é do fotógrafo Antônio Guerrero e foi realizado em 1969. Na imagem, Betty Faria, agora com 73 anos, e Leila Diniz, que morreu em 1972 aparecem dando um selinho deitadas na areia da praia de Ipanema, no Rio de Janeiro.
A imagem se tornou viral ao ser compartilhada nesta semana pela atriz Paula Braun em resposta aos comentários ofensivos sobre o beijo homossexual entre Nathália Timberg e Fernanda Montenegro na novela "Babilônia", da Globo, de Gilberto Braga.
O jornal Extra, do Rio, procurou a atriz Betty Faria para falar sobre o assunto, mas ela não quis comentar. Apenas disse que a imagem "era pra provocar vocês, babacas, 50 anos depois (risos)”.
Precisamos de mais 'Leilas' por aqui!

Fonte:http://www.brasilpost.com.br/

Em acórdão inédito, STF reconhece direito de adoção e denomina casais homoafetivos como família


O casal gay Toni Reis e David Harrad, fundadores do Grupo Dignidade, completa no próximo sábado Bodas de Prata, 25 anos de união. O evento que terá presenças ilustres, além dos três filhos do casal, será motivo de mais uma comemoração. Em 2006, o casal fez um pedido de adoção no Paraná para o primeiro caso de adoção conjunta por um casal homoafetivo da Vara da Infância de Curitiba mas o Ministério Público do Estado, depois de três anos, quis limitar a adoção a uma menina de mais de 12 anos de idade.
Certos de que se tratava de uma nova batalha, Toni e David que formam o primeiro casal gay a conseguir o reconhecimento do direito de visto de permanência para companheiro estrangeiro (David é inglês ) e ainda o primeiro casal do mesmo sexo a ter a união homoafetiva reconhecida no país, decidiram recorrer da decisão no caso da adoção, novamente por considerar a restrição discriminatória. Depois de o Tribunal de Justiça do Paraná autorizar a adoção sem qualquer restrição, o Ministério Público novamente recorreu, tendo o processo rejeitado no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e no Supremo Tribunal Federal por motivos técnicos, foi concedida a guarda mas depois de nova rejeição do Ministério Público o caso foi parar outra vez no STF. No meio tempo, o casal adotou no Rio de Janeiro três crianças, Alisson, Jéssica e Felipe, com a ajuda de uma juíza carioca que procurou o casal.
Esta semana saiu o acórdão do STF garantindo o direito à adoção conjunta do casal, criando decisão que será válida a todos os casais homoafetivos do país que buscam adotar filhos, em resposta ao último recurso do MP. O casal foi defendido pela advogada Gianna Carla Andretta e o processo teve relatoria da ministra Carmem Lúcia. Para a relatora, a homofobia não pode ser disfarçada de interpretações equivocadas da Constituição. Ela descreve a família formada por casais do mesmo sexo como entidades familiares amparadas pela Constituição e dignas de reconhecimento e proteção do Estado.
"A Constituição Federal não faz a menor diferenciação entre a família formalmente constituída e aquela existente ao rés dos fatos. Como também não distingue entre a família que se forma por sujeitos heteroafetivos e a que se constitui por pessoas de inclinação homoafetiva. Por isso que, sem nenhuma ginástica mental ou alquimia interpretativa, dá para compreender que a nossa Magna Carta não emprestou ao substantivo "família" nenhum significado ortodoxo ou da própria técnica jurídica. Recolheu-o com o sentido coloquial praticamente aberto que sempre portou como realidade do mundo do ser. Assim como dá para inferir que, quanto maior o número dos espaços doméstica e autonomamente estruturados, maior a possibilidade de efetiva colaboração entre esses núcleos familiares, o Estado e a sociedade, na perspectiva do cumprimento de conjugados deveres que são funções essenciais à plenificação da cidadania, da dignidade da pessoa humana e dos valores sociais do trabalho. Isso numa projeção exógena ou extramuros domésticos, porque, endogenamente ou interna corporis, os beneficiários imediatos dessa multiplicação de unidades familiares são os seus originários formadores, parentes e agregados. Incluído nestas duas últimas categorias dos parentes e agregados o contingente das crianças, dos adolescentes e dos idosos. Também eles, crianças, adolescentes e idosos, tanto mais protegidos quanto partícipes dessa vida em comunhão que é, por natureza, a família. Sabido que lugar de crianças e adolescentes não é propriamente o orfanato, menos ainda a rua, a sarjeta, ou os guetos da prostituição infantil e do consumo de entorpecentes e drogas afins. Tanto quanto o espaço de vida ideal para os idosos não são os albergues ou asilos públicos, muito menos o relento ou os bancos de jardim em que levas e levas de seres humanos abandonados despejam suas últimas sobras de gente. Mas o comunitário ambiente da própria família. Tudo conforme os expressos dizeres dos artigos 227 e 229 da Constituição, este último alusivo às pessoas idosas, e, aquele, pertinente às crianças e aos adolescentes. Assim interpretando por forma não-reducionista o conceito de família, penso que este STF fará o que lhe compete: manter a Constituição na posse do seu fundamental atributo da coerência, pois o conceito contrário implicaria forçar o nosso Magno Texto a incorrer, ele mesmo, em discurso indisfarçavelmente preconceituoso ou homofóbico. Quando o certo - data vênia de opinião divergente - é extrair do sistema de comandos da Constituição os encadeados juízos que precedentemente verbalizamos, agora arrematados com a proposição de que a isonomia entre casais heteroafetivos e pares homoafetivos somente ganha plenitude de sentido se desembocar no igual direito subjetivo à formação de uma autonomizada família. Entendida esta, no âmbito das duas tipologias de sujeitos jurídicos, como um núcleo doméstico independente de qualquer outro e constituído, em regra, com as mesmas notas factuais da visibilidade, continuidade e durabilidade", declarou a ministra relatora, parafrasenado o voto do colega Ayres Britto no julgamento de 2012 que reconheu a união entre pessoas do mesmo sexo. A ministra votoucontra o prosseguimento do embargo especial do Ministério Público do Paraná, que alegava conflito de interesses do Estado na adoção gay e falta de reconhecimento da família homoparental na Constituição.

Fonte: http://www.revistaladoa.com.br